domingo, 12 de dezembro de 2010

Tabula Rasa

"Segundo John Locke , a alma é como uma tabula rasa - tábua sem inscrição - como um pedaço de cera em que não há qualquer impressão, um papel em branco..."

As primeiras cenas, as cores, os sons. É difícil imaginar que algum dia o que é tão meramente cotidiano foi novo e primeiro. Os olhos que se abrem lentamente fitando lógicas que fazem intimamente parte de nós. O doce, o sal, o sol. As primeiras pernas postas calmamente uma na frente da outra. Conceitos que parecem ter nascido fortemente encravados em nós e que inacreditável e naturalmente vão sofrendo mutações e se perdendo partícula por partícula , deixando rastros e marcas daqueles pequeninos pedaços inseguros demais para se desprenderem. Gostos que como o tempo, a mente e o mundo , mudam. O singular. As curiosidades que viram distrações. Peças que vão se unindo feito ímã , arrastando e atraindo umas às outras. Tudo aquilo que sem um ritmo determinado vai dando lugar ao diferente, ao oposto e que às vezes se clareia na velocidade com que os olhos piscam para descobrir mais uma vez que aquilo tão aparentemente cotidiano , foi novo e primeiro. E daí as inscrições, impressões , as letras. As frases, os sujeitos , predicados e presença ou ausência daqueles que insistem em complementar, preencher e ocupar de pouco a pouco e de forma inconstante um ser , uma alma , uma tabula rasa.






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