Ninguém perde ninguém por não gostar de suas viagens preferidas, não lembrar de todas as datas especiais ou não ouvir Los. Quando se perde por fim, era só o último pedaço, a última gota, o último grão de alguém. O último pozinho que insistia em ficar feito poeira escondida em um canto escuro ou embaixo do sofá. E os primeiros se perderam pelo vento, que não foi aproveitado em um domingo a tarde quando se assistia algum programa banal frente a TV esperando a vida passar. Se perderam depois do primeiro gole sem brinde, nos elogios que nunca foram feitos mesmo que tivesse milhares de motivos para acontecer. Se perde pela ausência do abraço apertado ou do beijo estalado no rosto, enquanto se pensasse que seria perder o tempo demais. Se perdeu pelas vezes em que não se pôde abrir mão, em que as músicas deixaram de ser trilha e o amor caiu na rotina. Raramente se perde alguém por completo no estalar dos dedos. Quando se nota a perda, a existência já era ausência bem antes da dissipação.