quinta-feira, 5 de maio de 2011

Memories


E aquelas fotografias desgastadas e cheias de sorrisos pueris me aproximavam da verdade de ter algo bom para lembrar quando se olha pra trás. Porque tudo parecia mais verdadeiro,mais eterno. E com exceção do dia e da noite, a efemeridade quase nunca precisava pintar suas cores, já que se tudo fosse fixo e inerte, diferença nenhuma faria. Afinal, era por esse ângulo que eu via a vida. Mas e não era mesmo pra vida toda? É que no tempo daquelas fotografias, outras palavras às vezes parecem soar como algo que diz que foram felizes para sempre. Estranho. Mas e sobre elas,ainda existem. Velhas,manchadas e desgastadas, quando não irrecuperáveis. Foi ontem. Hoje de manhã. O amor à primeira vista pelo mar, as amigas de todo o sempre,as sandálias e bonecas preferidas, a cor-de-rosa e a preferência por tudo que me é oposto hoje. Além do jardim,que eu conhecia como a mim mesma. O meu jardim. As pétalas em tons de rosa claro e aveludadas, os galhos finos e as pedrinhas pequenas. E se tem lembrança de cada detalhe, pequeno,não ínfimo. Quando se importa e emociona,lembra. Tudo aquilo que marca. E com ele,por motivos tão óbvios para mim,não poderia ser diferente. Foi como aprendi que mesmo que se tenha quebrado a flor preferida de alguém, quando se assume, o perdão vem logo banhado por orgulho. Bom se assim ainda o fosse. Como uma sequância cronológica e exata de fatos. E eu poderia até ter certeza. Porque no tempo das fotografias eu ainda tinha certezas em mim. Só existia o meu Deus e as minhas crenças, o mundo sempre seria salvo no final do dia e quem eu amasse teria o poder de ser para sempre. E no mais,apenas sinceridade. Mentir por quê? Mesmo depois da flor mais bela quebrada ainda se tem o perdão. Tudo tão perdoável que não valia a pena se esconder a verdade ou se esconder atrás dela. E assim,liberdade. Para investir em limonadas na porta de casa, para juntar as calcinhas e fugir -mesmo o portão obrigando a volta-. Livre pra se escolher quem vai estar do lado no futuro - talvez um dos únicos planos reais,concluídos; que não precisou mudar. Liberdade para escrever cartas, pedidos de desculpas a quem estava do lado e forjar cartas de amor e reconciliação. E com o sentimentos mais nobre que se pode ter alguém livre, acreditar que um muda o mundo. Não de forma cíclica,apenas um, entre mudos. E talvez até tenha conseguido mudar o pequeno que se era no tempo das fotografias. E não me tenha como desiludida,cansada. Ainda é cedo, ainda há tempo, e as mudanças maiores,sei bem, foram aqui dentro. Mas dessa vez de modo cíclico, porque essas mudanças tão inerentes ao ser humano foram consequências e causas de toda uma cadeia. Uma reação entre elas. E para todas as (in)evitáveis passagens e mutações, as testemunhas de que existiu um passado. E que se tem algo bom para lembrar quando se olha a estrada que ficou para trás.