E não. Não me chame , nem me responda. Deixe as pedras no meio do meu caminho. Não puxe meus pés ou segure minhas mãos. Não me oriente. Me deixe caminhar livre, incerta, desfeita. Me deixe assim, entre esses passos tortos, esses caminhos tortos, essas vias tortas. Me deixe enganar, iludir, acreditar. Me deixe achar que o mundo é como penso e vejo. Não me prenda, não me cuide. Me solte e deixe que eu caia por entre um passo e outro, uma pedra e outra. Afinal, eu adoro descobrir as controvérsias daquilo que penso. Então, me deixe.
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
sábado, 18 de dezembro de 2010
Sobre Nós
Entrenó. É intermédio, lacuna, break. Às vezes, intervalos para puxar novamente o fôlego, se reerguer. Outras, épocas de escolhas. Quais nós precisam ser pulados, seguidos. Quais devemos desatar, atar novamente, tornar cegos. Época para reencontrar os que esquecemos no meio do caminho ou os que se perderam sem que percebêssemos. Nó é sempre aquilo que foi, é, será. O que ficou só com a gente, era para ser. Por que não? Nó é tudo que compõe, modifica. O que se vive, faz, pensa. Tudo que passa, avança e o que fica para trás. Um conjunto de nós presos em uma única e imensa corda - a vida ou o destino, quem sabe - . Os nós que buscam outras cordas, outros suportes. E aqueles que preferem ou se acomodam em ficar sozinhos, quietos. São os nós que nos prendem, libertam, que são nossos por algum minuto ou década. Os que doamos, e até os muitos que fogem de nós. Tudo em uma mesma dança de tempos. Porque somos feitos de nossas vivências. E tenho em mim a crença de que estas são colineares. Se para cada uma destas um nó, que se façam nós entre nós.
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
Luz
E lá estavam. Alinhadas e distantes. Sim, se encontravam um pouco distantes ; e essa distância, por motivos que eu bem conheço, me incomodava. Mas me confortava saber que mesmo assim, distantes, se encontravam. E talvez por isso - além do cenário negro a que faziam parte - me chamavam tanta atenção. Eram duas. A primeira, maior, tinha um brilho forte e inconstante ; a outra era pequenininha e de pouco brilho, de modo que acabava se perdendo às vezes, fazendo com que eu, em muitas tentativas,à procurasse atentamente.
- Olha, aqui na salinha que estou tem uma janela, de onde posso ver agora duas estrelinhas brilhando, uma pequena e uma grandinha.
E continuava...
- Elas estão um pouco distantes...
- Nós dois.
- A (estrela) grande tem um brilho forte, já a menor chega a se perder às vezes. Quando falei e fui olhar de novo, não vi mais. Daí, fiquei observando, procurando e encontrei.
- Eu entendo.
- Tem que ter paciência para poder vê-la. Mas... você tem, não tem?
- É claro que tenho.
- Quando a pequenininha parece ter apagado, a grande continua brilhando forte. Acho que é pra não deixar ela se perder.
- Mas se você olhar bem,a grande às vezes fica pequena também e vice-versa.
- Você também pode ver?
- Eu não sei. Mas é assim mesmo, acredite.
- É... Obrigado por manter a luz acesa e não deixar eu me perder, viu?
* à quem tem sido luz, abrigo e palavra. Aos Eduardos e Isabelas da vida. Da minha.
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
E Leve...
Deixe a porta aberta, deixe suas recordações
Deixe suas lembranças
Deixe suas memórias
Comigo
Deixe a porta aberta
Mas não se arrependa, não volte
Apenas deixe-a aberta e leve tudo o que quer
Leve seus sabores, suas sensações, seus arrepios
Leve tudo com você ; Não gosto de retrocessos
Leve com você qualquer beijo, qualquer carinho
Somente leve com você
Leve os abraços e as palavras
Até aquelas ditas em vão, ou nem tanto assim
Leve com você os presentes, o passado e o futuro
Leve tudo com você
Leve os tons de voz, a entonação
Leve as melodias e não deixe nada comigo
Leve as mãos atadas , as chuvas , os lugares
Leve com você as tardes de sol, o mar e a noite
Leve com você os nossos passos, os nossos planos
Leve meus sinais , meus gestos e o que quiser
Vá, e leve tudo com você
Leve com você tudo aquilo que já fez parte de mim
E hoje, não mais
Apenas me leve ...
domingo, 12 de dezembro de 2010
Tabula Rasa
"Segundo John Locke , a alma é como uma tabula rasa - tábua sem inscrição - como um pedaço de cera em que não há qualquer impressão, um papel em branco..."
As primeiras cenas, as cores, os sons. É difícil imaginar que algum dia o que é tão meramente cotidiano foi novo e primeiro. Os olhos que se abrem lentamente fitando lógicas que fazem intimamente parte de nós. O doce, o sal, o sol. As primeiras pernas postas calmamente uma na frente da outra. Conceitos que parecem ter nascido fortemente encravados em nós e que inacreditável e naturalmente vão sofrendo mutações e se perdendo partícula por partícula , deixando rastros e marcas daqueles pequeninos pedaços inseguros demais para se desprenderem. Gostos que como o tempo, a mente e o mundo , mudam. O singular. As curiosidades que viram distrações. Peças que vão se unindo feito ímã , arrastando e atraindo umas às outras. Tudo aquilo que sem um ritmo determinado vai dando lugar ao diferente, ao oposto e que às vezes se clareia na velocidade com que os olhos piscam para descobrir mais uma vez que aquilo tão aparentemente cotidiano , foi novo e primeiro. E daí as inscrições, impressões , as letras. As frases, os sujeitos , predicados e presença ou ausência daqueles que insistem em complementar, preencher e ocupar de pouco a pouco e de forma inconstante um ser , uma alma , uma tabula rasa.
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